Não posso deixar de expressar a vergonha que sinto quando
baixo a cabeça e dou razão para injustiça, simplesmente por ter me comprometido
a seguir um padrão que as vezes, não condiz com meus princípios.
Nesta semana que
passou, dentre muitas, vi mais um exemplo de injustiça, arrogância, egoísmo e
preconceito. Senti vergonha... Vergonha
de baixar a cabeça e ter de “concordar” com um ato tão desumano. - Eu, ainda
tenho que seguir padrões, respeitar quem não pratica o respeito e estender
tapete vermelho para pessoas com o rei na barriga.
De um lado uma mulher, carro do ano com ar e direção
hidráulica, salto de luxo, roupas de grife, bolsa de marca cara, cabelos lisos
avermelhados, cor da pele : branca. Do
outro, um homem, uniforme do trabalho, entregador/carregador, boné, cor da
pele: negra.
Diferença entre eles:
---Pela lei: nenhuma
-----Cientificamente: o sexo.
-------Para sociedade: Ela interessa, ele...talvez, mas ela está no
topo $$ e ele é irrelevante.
--------Para mim: Nenhuma
---------Para os padrões que tenho que seguir: Ela tem sempre razão.
Disputam uma vaga no estacionamento, ela porque escolheu
aquele lugar, ele porque precisa carregar
e descarregar, haviam outras 3, ou melhor 2...porque uma Land Rover estava
ocupando 2 vagas, mas ela queria aquela e não outra.
Não conseguiu estacionar, decidiu então brigar! Mas com quem?? Com a Land Rover ?? Não, pega mal brigar com alguém que está no topo da sociedade como ela. Então, brigarei com o da esquerda, o entregador!
Dito e feito.
O ofendeu aos berros, achou certo culpa-lo, por simplesmente não conseguir
estacionar entre dois carros, e bonito, julgá-lo por não tirar o carro dali para ela (sendo que existiam mais 2 vagas) e ele já estava na metade do seu processo de descarregamento.
Tudo porque? Porque ela precisa de espaço, assim como a
Land Rover e seu dono, e por quê? Porque estão no topo da sociedade $$
Não contente com a clara demostração de superioridade e
arrogância. – diga-se de passagem perto de 2 crianças, seus filhos
(Grande exemplo
como mãe), entrou no estabelecimento, com a ideia de que o mundo é obrigado a parar, sentar e ouvi-la,
vomitou milhões de asneiras regadas a prepotência e preconceitos nos meus
ouvidos. Segui os padrões, já que assumi segui-los, não fiz diferente,
igualei-me, ou melhor fui sua serva, mesmo contrariando meus princípios. - A razão é sempre do cliente...providências
serão tomadas, perdão pelo transtorno e isso não acontecerá novamente.
-Você não fará nada agora? Não brigará com ele? Não aplicará
nenhuma advertência??. Disse em alto e bom som.
Faltou ela terminar
com a frase “ quero que ele vá preso e leve 200 chibatadas”.
Depois de muito reclamar, humilhar-me dizendo que não tenho
coragem de tomar providências (de manda-lo talvez para o pau de arara), ofender
o entregador e ainda gritar um monte de asneiras que nnão faziam parte do ensejo. Ela sai, esquecendo seus dois filhos pequenos, quase que cuspindo no chão, prometendo não mais colocar seus belos pares de salto de luxo, no tapete vermelho que estendemos pra ela e pronta para publicar uma reclamação no
RECLAME AQUI, denegrindo a minha imagem e a do meu trabalho, regada de palavras
mentirosas e arrogantes.
No fim, os errados:
Eu e o entregador que não construímos rapidamente um
estacionamento exclusivo para a moça de roupa de grife, bolsa cara, sapatos de
luxo, cabelo vermelho , pele branca e que está no topo da sociedade e por isso, merece exclusividade, tapete vermelho e
servos.
Existem preconceitos sim! Ainda existe muito preconceito, aquele de 1880!!! Existem muitas injustiças, aquelas 1970, humilhações, aquelas de 1939 na europa, por pura diferença de classe!!! Aliás...quem inventou essa coisa de CLASSE SOCIAL ?? Classe
A, B, C, D...? É ridículo!!!
Mais ridículo ainda é essa mulher querer que eu humilhe o entregador
na frente dela, por algo que ele não fez, por uma razão que ela não tem e
exigir algo que ela não tem direito: MAIS ESPAÇO.
Todos os dias vejo exemplos nojentos de pessoas egoístas,
materialistas, que possuem o prazer de humilhar alguém e sair como “vencedor” !!!
Vencedor de que? Pra que? Vencer essa batalha cruel de diferenças sociais. Uma batalha entre
os que estão acima, no poder, batendo panelas na suas sacadas gourmet, os que
estão no topo da sociedade contra os outros (que não há classificação, por
simplesmente não terem carro do ano, roupa de grife e sacadas gourmet)
Sinto vergonha, vergonha mesmo, grande! De não dizer o que
devia ter dito. Sinto uma vergonha imensa de olhar para o entregador... e lembrar das desculpas que ele pediu enquanto
ela, ao meu lado, o humilhava com palavras e julgamentos... Eu? O que fiz? ...
NADA. Porque preciso seguir padrões.
Malditos padrões que me obrigam a ser quem não sou!